"O meu irmão, para mim, é uma lição de vida"

Publicado a
Atualizado a

O jornalismo foi um meio para atingir os seus fins, para chegar à política?

Não, foi o que me apeteceu fazer quando tinha 20 e poucos anos. E que fiz com imenso gosto!

Tem saudades desse tempo?

É um tempo que encerrei. Fiz com imenso gosto, tive accionistas óptimos. Sempre achei que os jornais não eram para dar prejuízo, eram para dar rendimento a quem investia.

E conseguiu isso n' O Independente?

Consegui, manifestamente. Nunca teria feito O Independente sem o Miguel Esteves Cardoso e sempre tivemos liberdade editorial, nunca ninguém nos impingiu o que quer que fosse. Nós tínhamos um trade-off muito bom: os accionistas ganham dinheiro, nós tomamos decisões editoriais.

Isso significa que quando atacava, violentamente, o professor Cavaco Silva o fazia por convicção. O que é que mudou?

Ele nessa altura era primeiro-ministro de uma maioria absoluta e você está a falar com uma pessoa que, tendo sido director d'O Independente, pediu o voto no professor Cavaco Silva na primeira eleição presidencial, em que ele não ganhou, o apoiou na segunda, quando ele ganhou, e o vai apoiar na recandidatura. Passou já quanto tempo? O Independente é de 1988, 89, por aí.

Diz-se que naquela altura era capaz de tudo por uma boa notícia, até de procurar informação nos caixotes do lixo. Isso é verdade?

Não. Um jornal inglês é que fez essa coisa dos caixotes do lixo. O Independente fez coisas muito bem feitas e fez coisas muito mal feitas. Eu, graças a Deus, tenho a humildade de perceber hoje as coisas bem feitas, de que me orgulho, as coisas mal feitas, de que muitas vezes tenho de pedir desculpa.

Um jornal como O Independente - quer fazer esse exercício? - como é que hoje agarraria num tema como o dos submarinos?

Agarrava, com certeza. Agora, ia a fundo, não ia a rumores. É que é mais fácil publicar um rumor do que fazer uma acusação ou descobrir uma verdade, certo?

O que o levou, aos 33 anos, a assinar a ficha do CDS, depois de já ter passado pelo PSD?

A minha passagem pelo PSD é o efeito de uma convicção carismática. Eu nunca fui social-democrata, mas era "sá carneirista". A personalidade política que me fez viver para a política chamava-se Sá Carneiro. Depois ele morreu. Aquilo que me ligava ao PSD era o líder do PSD naquele momento. O facto de eu ter um dia entrado no CDS é uma coisa muito simples, mas em Portugal acidentada: eu sou de direita, graças a Deus, orgulhosamente! Em Portugal há um partido de direita, graças a Deus, orgulhosamente. Se eu sou de direita e há um partido de direita, é nesse partido de direita que estou filiado. É tão simples quanto isto! Está a ver como a política pode ser linear e clara?

O seu irmão, Miguel Portas, é militante e eurodeputado do Bloco de Esquerda, tem opções políticas muito diferentes das suas. É público que está doente, como é que a família tem lidado com o problema?

É um assunto completamente familiar e portanto eu falo dele o menos possível. O meu irmão, para mim, é uma lição de vida, e eu sou absolutamente solidário com ele. Adoro o meu irmão. São coisas que marcam a vida de uma pessoa. Não posso dizer mais nada.

Faltam-lhe dois anos para chegar aos 50. Planeia ficar pela política ou tem outros objectivos para a sua vida?

Não. Eu sempre disse: não comecei por fazer política e não terminarei, com certeza, a fazer política, quero fazer outras coisas na vida. A política é um serviço que se faz aos outros numa determinada conjuntura.

Que relações mantém com Marcelo Rebelo de Sousa?

Nem boas nem más. Se o encontrar, cumprimento-o, e vice-versa.

E vê ao domingo as análises dele na TVI?

Não. Faço muita poupança... Outro dia, ele ficou muito maçado com o voto do CDS no Orçamento. E eu disse: "Está bem, a gente para o ano faz-lhe o favor, pede ao professor Marcelo para anunciar o voto do CDS no Orçamento, pronto."

Mantém contactos com Durão Barroso, que foi primeiro-ministro no seu Governo?

Quando vou a Bruxelas ou quando se justifica, com certeza.

Alguma vez pensou em casar-se?

Inúmeras, mas não vou dizer-lhe.

É conhecida a sua apetência pelo cinema, diz que gostava muito de escrever um guião para um filme. Já começou?

Não! Até sei onde é que vou tirar o curso de escrita de cinema, mas não tenho tempo .

Aconselhou a sua mãe, Helena Sacadura Cabral, no último livro que ela escreveu?...

A ideia dela era mulheres que tiveram paixões. Ela perguntou-me se achava mais interessante a figura da Indira Gandhi ou a da Golda Meir. E eu disse-lhe que achava interessante a figura da Indira Gandhi, mas achava muito menos conhecida a figura da Golda Meir. Na nossa família somos tão diferentes, cada um de nós tem a sua identidade, respeitamo-nos de tal maneira que não somos intrusivos na vida uns dos outros. É a única maneira de nos darmos todos bem.

Sei que é adepto do Sporting. Continua a ir ao futebol? Acompanha a vida do clube?

Sim, mas não me faça perguntas... (risos) Essa sim, é uma verdadeira pergunta difícil.

O partido de que é presidente chama-se CDS-PP. Esse PP refere-se mais a Paulo Portas ou a Partido Popular?

Refere-se a Partido Popular. A velha tradição democrata que está na Europa é de partidos populares, que existem em grande parte dos países europeus. Aliás, como existem logo aqui ao lado em Espanha, com 40% dos votos.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt